Editora
Pioneira, São Paulo, 1998
(Livro
com 187 páginas, compilado em 18)
Por
quase meio século, Peter Drucker tem inspirado e educado gerentes com seus
marcantes artigos na Harvard Business Review. Aqui está reunida uma
coleção inestimável das suas obras mais importantes. Um de nossos maiores
pensadores sobre a prática e o estudo de administração, Drucker buscou,
identificou e examinou as questões mais importantes que confrontam os gerentes,
desde estratégia corporativa até estilo gerencial e mudanças sociais. Através
de sua lente única, esse livro nos dá a rara oportunidade de acompanhar a
evolução das grandes mudanças em nossos locais de trabalho e entender mais
claramente o papel dos gerentes no esforço permanente para equilibrar mudança e
continuidade. Agora, esses importantes ensaios e artigos estão estrategicamente
apresentados aqui para tratar de dois temas unificantes: o primeiro examina
"As Responsabilidades do Administrador", enquanto o segundo investiga
"O Mundo do Executivo". Deles emerge um quadro completo da teoria e
da prática gerencial, como ela era e como será. A Profissão de Administrador
é certamente um livro para ser estudado, debatido e apreciado por todos aqueles
ligados à gerência e é uma contribuição oportuna de um dos mais respeitados e
prolíficos autores publicados na Harvard Business Review.
O FUTURO JÁ ACONTECEU
Nos
negócios humanos é inútil prever o futuro, mas é possível – e útil –
identificar eventos importantes que já aconteceram, de forma irrevogável, e que
portanto terão efeitos previsíveis nas duas próximas décadas. Em outras
palavras, é possível identificar e se preparar para o futuro que já
aconteceu. O fator dominante para os negócios nas duas próximas décadas –
com exceção de guerra, peste ou colisão com um cometa – não será economia ou
tecnologia. Será a demografia. O fator chave para os negócios será a subpopulação
dos países desenvolvidos – o Japão, os países europeus e os Estados Unidos.
Isto quer dizer, seus cidadãos não estão produzindo bebês suficientes para se
reproduzirem. Mesmo que os índices de natalidade crescessem da noite para o
dia, seriam precisos 25 anos antes que esses novos bebês se tornassem adultos
plenamente educados e produtivos. Em outras palavras, para os próximos 25 anos
a subpopulação dos países desenvolvidos é um fato consumado e assim tem as
seguintes implicações para suas sociedades e economias:
- A idade de aposentadoria – na qual as pessoas deixam de trabalhar – subirá, em todos os países desenvolvidos, até 75 anos para pessoas saudáveis, que são a grande maioria.
- O crescimento econômico pode vir somente de um aumento agudo e continuado da produtividade de um recurso no qual os países desenvolvidos ainda possuem uma vantagem: a produtividade do conhecimento e dos trabalhadores do conhecimento.
- Não haverá uma única potência dominante mundial, porque nenhum país desenvolvido possui a base populacional para sustentar tal papel. Não pode haver nenhuma vantagem competitiva a longo prazo para qualquer país, indústria ou empresa, porque nem o dinheiro nem a tecnologia podem compensar, por qualquer período de tempo, os crescentes desequilíbrios em recursos de mão-de-obra. A única vantagem comparativa dos países desenvolvidos está no suprimento de trabalhadores do conhecimento.
O
conhecimento é diferente de todos os outros recursos. Ele torna-se
constantemente obsoleto; assim, o conhecimento avançado de hoje é a ignorância
de amanhã. E o conhecimento que importa está sujeito a mudanças rápidas e
abruptas, como, por exemplo, na indústria de cuidados com saúde e na indústria
de computadores. A produtividade do conhecimento e dos trabalhadores do
conhecimento não será o único fator competitivo na economia mundial. Mas é
provável que ela se torne o fator decisivo, ao menos para a maior parte das
indústrias nos países desenvolvidos. A probabilidade desta previsão contém
implicações para empresas e para executivos., quais sejam:
- A economia mundial irá continuar a ser altamente turbulenta e competitiva, propensa a oscilações abruptas, assim como a natureza e também o conteúdo do conhecimento relevante mudam de forma contínua e imprevisível.
- As necessidades de informações das empresas e dos executivos provavelmente irão mudar rapidamente. Uma estratégia vitoriosa irá exigir cada vez mais informações a respeito de eventos e condições fora da instituição: não-clientes, tecnologias além daquelas normalmente usadas pela empresa e seus atuais concorrentes, mercados atualmente não atendidos e assim por diante.
- O conhecimento torna os recursos móveis. Os trabalhadores do conhecimento, ao contrário dos trabalhadores manuais, possuem os meios de produção: eles carregam esse conhecimento em suas cabeças e portanto podem levá-lo consigo. Em decorrência, essas pessoas não podem ser "gerenciadas" no sentido tradicional da palavra. Em muitos casos, elas nem mesmo serão funcionárias das organizações, mas empreiteiras, peritas, consultoras, trabalhadoras em tempo parcial, parceiras de empreendimentos etc. Um número crescente dessas pessoas irá se identificar por seu próprio conhecimento e não pela organização que as paga.
- Implícita nisso está uma mudança no próprio significado de organização. Haverá somente "organizações" tão diversas umas das outras quanto uma refinaria de petróleo, uma catedral e um sobrado suburbano o são, mesmo que os três sejam "edifícios". Nos países desenvolvidos, cada organização (e não somente as empresas) terá de ser concebida para uma tarefa, uma época e uma localização (ou cultura) específicas.
- A arte e a ciência da administração irão cada vez mais se estender além das empresas. A área mais importante para o desenvolvimento de novos conceitos, métodos e práticas será no gerenciamento dos recursos do conhecimento da sociedade – especificamente educação e assistência à saúde, ambas hoje superadministradas e subgerenciadas.
Previsões?
Não. São as implicações de um futuro que já aconteceu.
PARTE I – AS RESPONSABILIDADES DO
ADMINISTRADOR
A TEORIA DO NEGÓCIO
Nunca
houve tantas novas técnicas gerenciais como hoje. Com exceção da terceirização
e da reengenharia, elas foram concebidas principalmente para fazer de forma
diferente aquilo que já é feito. São ferramentas de "como fazer".
Contudo, "o que fazer" está, cada vez mais, se tornando o desafio
central enfrentado pelos dirigentes de empresas, em especial as empresas que
tiveram sucesso por muito tempo. A história é conhecida: uma empresa que ainda
ontem era uma estrela de primeira grandeza hoje vê-se estagnada, frustrada, com
problemas e, muitas vezes, numa crise inadministrável. A causa básica de quase
todas essas crises não é o fato de as coisas estarem sendo malfeitas, nem
erradas. Na maioria dos casos, estão sendo feitas as coisas certas – mas
inutilmente. Qual o motivo deste aparente paradoxo? As hipóteses sobre as quais
a organização foi construída e está sendo dirigida não mais se encaixam com a
realidade. Elas moldam o comportamento de qualquer organização, mudam suas
decisões a respeito do que fazer ou não, definem o que as organizações
consideram resultados significativos, tratam de mercados, clientes e
concorrentes, seus valores, comportamentos, da tecnologia e sua dinâmica e das
forças e fraquezas de uma empresa. Estas hipóteses são a respeito do motivo
pelo qual uma empresa é paga. Elas são o que chamo a teoria do negócio
de uma empresa. O que está por baixo da atual doença de tantas organizações
grandes e bem-sucedidas em todo o mundo é que suas teorias do negócio não
funcionam mais.
Uma
teoria do negócio tem três partes. Primeiro, existem hipóteses a respeito do
ambiente da organização: da sociedade e sua estrutura, o mercado, o cliente e a
tecnologia. Segundo, há hipóteses a respeito da missão específica da
organização. Terceiro, existem hipóteses a respeito das competências essenciais
necessárias à realização da missão da organização.
As
hipóteses a respeito do ambiente definem aquilo que uma organização é paga para
fazer. Aquelas a respeito da missão definem o que uma organização considera
resultados significativos; em outras palavras, elas mostram como ela está
fazendo uma diferença na economia e na sociedade em geral. Finalmente, as
hipóteses a respeito de competências essenciais definem em que a organização
precisa se superar para manter a liderança.
É
claro que tudo isso soa enganosamente simples. Normalmente são necessários anos
de muito trabalho, reflexão e experimentação para se atingir uma teoria clara,
consistente e válida do negócio. No entanto, toda organização precisa
desenvolver a sua para ter sucesso.
As
especificações de uma teoria válida do negócio são:
- As hipóteses a respeito do ambiente, da missão e das competências essenciais precisam se encaixar na realidade.
- As hipóteses nas três áreas precisam encaixar-se.
- A teoria do negócio precisa ser conhecida e compreendida em toda a organização.
- A teoria do negócio precisa ser constantemente testada.
Algumas
teorias do negócio são tão poderosas que duram por muito tempo. Porém, sendo
artefatos humanos, elas não duram para sempre; aliás, hoje em dia elas
raramente duram muito tempo. Com o passar do tempo, toda teoria do negócio
torna-se obsoleta e sem valor. Isto aconteceu com a GM, AT&T, IBM, hoje com
o Deutsche Bank e sua teoria do banco universal e com os keiretsu
japoneses atualmente em rápida desagregação.A primeira reação de uma
organização cuja teoria está se tornando obsoleta é quase sempre defensiva, ou
seja, fingir que nada está acontecendo. A segunda seguinte é a tentativa de
remendar, mas remendar não funciona. Ao contrário, quando a teoria dá os
primeiros sinais de obsolescência, está na hora de começar a pensar novamente,
de perguntar novamente quais hipóteses a respeito do ambiente, da missão e das
competências básicas refletem com maior precisão a realidade – a partir da
clara premissa de que nossas hipóteses historicamente transmitidas, aquelas com
as quais crescemos, não mais são suficientes.
O
que então precisa ser feito? Há necessidade de:
- cuidados preventivos – isto é, embutir na organização o monitoramento e teste sistemáticos da sua teoria do negócio. A primeira medida preventiva é o abandono, ou seja, a cada três anos, uma organização deve questionar cada produto, serviço, política, canal de distribuição com a pergunta: Se já não estivéssemos nisto, nós entraríamos agora? Questionando políticas e rotinas aceitas, a organização se força a pensar a respeito de sua teoria, a testar suas hipóteses e a perguntar: Por que isto não funcionou, apesar de parecer tão promissor quando entramos há cinco anos? É porque cometemos um erro? Porque fizemos as coisas erradas? Ou é porque as coisas certas não funcionaram? A segunda medida preventiva é estudar aquilo que acontece fora da empresa, especialmente os não-clientes, pois uma organização também tem de ser movida pelo mercado.
- diagnóstico precoce – isto é fundamental. Repensar uma teoria que está estagnada e tomar providências efetivas para mudar políticas e práticas, alinhando o comportamento da organização `às novas realidades do seu ambiente, a uma nova definição da sua missão e às novas competências essenciais a serem desenvolvidas e adquiridas.
A DECISÃO EFICAZ
Os
executivos eficazes não tomam muitas decisões. Eles se concentram naquilo que é
importante. Eles procuram encontrar as constantes numa situação, definir o que
é estratégico e genérico, ao invés de "resolver problemas". Eles
querem saber a respeito de que é a decisão e quais as realidades subjacentes
que ela deve satisfazer. Eles querem impacto, não técnica. E querem ser seguros
ao invés de espertos.
Os
elementos por si sós não "tomam" as decisões. Na verdade, toda
decisão é um julgamento de risco. Porém, a menos que esses elementos sejam os
pontos de partida do processo decisório, o executivo não chegará a uma decisão
correta e certamente não a uma decisão eficaz. Portanto, a seqüência de etapas
envolvidas no processo de tomada de decisões são:
- Classificar o problema. Ele é genérico? É excepcional e único? Ou é a primeira manifestação de uma nova espécie, para a qual ainda é preciso desenvolver uma regra?
- Definir o problema. Como o que estamos lidando?
- Especificar a resposta para o problema. Quais são as "condições limitadoras"?
- Decidir o que é "correto", ao invés do que é aceitável, para satisfazer as condições limitadoras. O que irá satisfazer plenamente as especificações antes que se dê atenção a compromissos, adaptações e concessões necessários para tornar a decisão aceitável?
- Embutir na decisão a ação para executá-la. Qual deve ser o compromisso com a ação? Quem deve saber a respeito dela?
- Testar a validade e a eficácia da decisão em relação ao curso real dos eventos. Como está sendo executada a decisão? As suposições sobre as quais ela se baseou são apropriadas ou obsoletas?
Tomar
decisões é apenas uma das tarefas do executivo. Normalmente ele toma somente
uma pequena fração do seu tempo. Mas tomar as decisões importantes é a tarefa
específica do executivo. Só um executivo as toma. Um executivo eficaz toma
essas decisões como um processo sistemático com elementos claramente definidos
e numa seqüência distinta de etapas. De fato, o fato de serem esperadas (em
virtude de posição ou conhecimento) decisões que têm impacto significativo e
positivo sobre toda a organização, seu desempenho e seus resultados caracteriza
o executivo eficaz.
COMO TOMAR DECISÕES
SOBRE PESSOAS
Os
executivos passam muito tempo tomando decisões sobre pessoas do que com qualquer
outra coisa – e devem fazê-lo. Nenhum outro tipo de decisão é tão durável em
suas conseqüências ou tão difícil de desfazer. Contudo, os executivos, em sua
maioria, tomam más decisões a respeito de pessoal. Não existe um juiz infalível
de pessoas. Existem, porém, alguns executivos que levam a sério as decisões
sobre pessoal e trabalham neles. Marshal e Sloan eram tão diferentes quanto
podem ser dois seres humanos, mas seguiram – conscientemente – mais ou menos os
mesmos princípios para tomar decisões sobre pessoas:
- Se coloco uma pessoa em um cargo e ela não se desempenha bem, cometi um erro. Não posso culpar a pessoa, nem invocar o "princípio de Peter", nem reclamar. Cometi um erro.
- É dever dos gerentes assegurarem o bom desempenho das pessoas responsáveis em suas organizações.
- É melhor tomar bem as decisões sobre pessoas, porque elas determinam a capacidade de desempenho da organização.
- A única coisa que não se deve fazer: não entregue a pessoas novas, novas e grandes atribuições, pois isso só aumenta os riscos. Dê atribuições deste tipo a alguém cujo comportamento e cujos hábitos sejam seus conhecidos e que tenha conquistado confiança e credibilidade dentro da sua organização. Coloque um recém-chegado de alto nível inicialmente numa posição estabelecida na qual as expectativas são conhecidas e o auxilio disponível.
As
etapas da decisão
– Assim como há somente poucos princípios básicos, também há poucas etapas
importantes para seguir na tomada de decisões eficazes a respeito de pessoal:
- Defina a atribuição
- Analise um certo número de pessoas potencialmente qualificada
- Pense bem a respeito de como analisar esses candidatos
- Discuta cada um dos candidatos com várias pessoas que tenham trabalhado com eles
- Certifique-se de que a pessoa nomeada entenda o cargo.
Mesmo
que os executivos cumpram todas essas etapas, algumas das suas decisões sobre
pessoas ainda irão falhar. Estas são, na maior parte dos casos, as decisões de
alto risco que, não obstante, precisam ser tomadas. Não sabemos como testar ou
prever se o temperamento de uma pessoa irá se adequar a um novo ambiente. Só
podemos descobrir com a experiência. Se a passagem de um tipo de trabalho para
outro não for bem sucedida, o executivo que tomou a decisão precisa transferir
depressa o desajustado. Manter pessoas em um trabalho que elas não conseguem
realizar não é bondade; é crueldade. Mas também não é motivo para deixá-las ir
embora. Tomar decisões certas sobre pessoas é o meio básico de se controlar bem
a organização. Essas decisões revelam o quanto a gerência é competente, quais
são seus valores e se ela leva a sério suas funções. Não importa o quanto os
gerentes procurem manter secretas suas decisões – e alguns ainda se esforçam
para isso – as decisões sobre pessoas não podem ser ocultas. Elas são eminentemente
visíveis. Os executivos que não se esforça para acertar em suas decisões sobre
pessoas estão se arriscando a algo mais que o mau desempenho. Eles se arriscam
a perder o respeito de suas organizações.
O GRANDE PODER DE
PEQUENAS IDÉIAS
O
futuro não pode ser conhecido. A única coisa certa a respeito dele é que será
diferente de hoje, ao invés de uma continuação. Mas o futuro ainda não nasceu,
nem está formado e é indeterminado. Ele pode ser moldado por ações
intencionais. E a única coisa que pode efetivamente motivar essas ações é uma
idéia – de uma economia diferente, uma tecnologia diferente ou um mercado
diferente, explorado por uma empresa diferente. Mas as idéias sempre
começam pequenas. É por isso que o planejamento a longo prazo não serve apenas
para a grande empresa. É por isso que a pequena empresa pode de fato ter uma
vantagem em tentar dar forma ao futuro hoje. O novo, o diferente, quando
julgado em dólares, sempre parece tão pequeno e insignificante que tende a ser
apequenado pelo simples volume dos negócios existentes na grande empresa.
Contudo, o novo requer muito tempo. Tanto que a pequena empresa com freqüência
está muito disposta a enfrentar a tarefa. É por isso que há bons motivos para a
grande empresa organizar um esforço especial de planejamento a longo prazo;
caso contrário, ela não conseguirá passar do trabalho de hoje.
Mas
é claro que a pequena empresa que fizer um bom trabalho de moldar o futuro hoje
não permanecerá "pequena" por muito tempo. Toda emprega grande e
bem-sucedida hoje existente foi – em muitos casos até recentemente, como no
caso da IBM ou da Xerox – um pequeno negócio baseado numa idéia de como deveria
ser o futuro. Entretanto, essa "idéia" precisa ser empreendedora –
com potencial e capacidade para produzir riqueza – expressa num negócio que
produz e eficaz através de ações e comportamento. Subjacente à idéia
empreendedora está sempre a pergunta: "Que grande mudança na economia, no
mercado ou em conhecimento possibilitaria que nossa empresa conduzisse os negócios
da maneira que realmente gostaríamos, com os melhores resultados
econômicos?". A pergunta dominante não deve ser: "Como será a futura
sociedade?". Esta é a pergunta do reformador social, do revolucionário ou
do filósofo – não do empreendedor.
Fazer
o futuro acontecer requer trabalho e não "genialidade". O homem com
imaginação criativa terá, certamente, mais idéias imaginativas. Mas se estas
irão ter mais sucesso é incerto. A criatividade, tão presente em discussões
atuais sobre inovação, não é o verdadeiro problema. Normalmente há nas
organizações mais idéias do que elas poderiam pôr em prática. O que falta é a disposição,
por parte dos dirigentes, pare receber bem as idéias – eles deveriam
solicitá-las, assim como fazem por produtos e processos. Mas sempre é preciso
haver a disposição para pensar em termos gerais ao invés de específicos, em
termos de um negócio, das contribuições que ele faz, da satisfação que
proporciona, do mercado e da economia por ele servidos. Este é o ponto de vista
empreendedor. E ele é acessível ao homem de negócios médio.
O
gerente também precisa ter a coragem para comprometer recursos – e, em
particular, pessoal de primeira classe – para trabalhar para fazer o futuro
acontecer. O pessoal necessário para este trabalho deve ser pequeno, mas
constituído pelos melhores elementos disponíveis; caso contrário, nada
acontecerá. O homem de negócios necessita de uma base de validade e
praticabilidade para idéias empreendedoras que fazem o futuro. Uma idéia
precisa passar por testes rigorosos de praticabilidade para conseguir tornar um
negócio bem-sucedido no futuro. Em primeiro lugar, ela deve ter validade
operacional. Podemos agir com base nesta idéia? Ou podemos apenas falar a seu
respeito? Podemos realmente fazer algo imediatamente para provocar o tipo de
futuro que desejamos? Por outro lado, a idéia também precisa: (1) ter validade
econômica, ou seja, se pudesse ser posta para funcionar imediatamente, ela
teria de ser capaz de produzir resultados econômicos; (2) passar no teste do
empenho pessoal – acreditamos realmente na idéia? Queremos realmente ser esse
tipo de pessoa, fazer esse tipo de trabalho, dirigir esse tipo de negócio?
Fazer
o futuro requer coragem. Requer trabalho, mas também requer fé. Comprometer-se
com o oportuno simplesmente não é prático. Não será suficiente para os esforços
que estão à frente. Porque nenhuma idéia é perfeitamente segura – nem deve ser.
Não
ousando assumir o risco de fazer com que o novo aconteça, a gerência assume,
por omissão, o risco maio de ser surpreendida pelo que irá acontecer. Este é um
risco que nem mesmo a empresa maior e mais rica pode se dar ao luxo de assumir.
E é um risco que nem mesmo a menor da empresas precisa assumir.
A DISCIPLINA DA INOVAÇÃO
O
que todos os empreendedores de sucesso têm em comum não é um certo tipo de
personalidade, mas um compromisso com a prática sistemática da inovação. A
inovação é função específica do espírito empreendedor, seja num negócio
existente, numa instituição de serviços públicos ou em um novo empreendimento
iniciado por uma só pessoa na cozinha de sua casa. Ela é um meio pelo qual o
empreendedor cria novos recursos produtores de riqueza ou investe recursos
existentes com maior potencial para a criação de riqueza. Hoje
existe muita confusão a respeito da definição adequada de espírito
empreendedor. Alguns observadores usam o termo para se referirem a todos os
pequenos negócios; outros, a todos os novos negócios. Na prática, porém, muitas
empresas bem estabelecidas possuem espírito empreendedor altamente bem-sucedido.
Assim, o termo não se refere ao porte ou à idade de um empreendimento, mas a um
certo tipo de atividade. No centro dessa atividade está a inovação: o esforço
para criar mudanças intencionais e focalizadas no potencial econômico ou social
do empreendimento.
Fontes
da inovação
– Existem, é claro, inovações que brotam de um lampejo de genialidade.
Entretanto, a maior parte delas, em especial as bem-sucedidas, resultam de uma
busca intencional e consciente de oportunidades de inovação, as quais são
encontradas somente em poucas situações. Quatro dessas áreas de oportunidades
existem dentro de uma empresa ou indústria: (1) ocorrências inesperadas;
(2) incongruências; (3) necessidades de processo; e (4) mudanças na indústria e
no mercado. Existem, também, três fontes adicionais de oportunidades fora
da empresa, no ambiente social e intelectual: (1) mudanças demográficas; (2)
mudanças de percepção; e (3) novo conhecimento. É verdade que essas fontes se
superpõem, por mais diferentes que possam ser na natureza de seu risco, na
dificuldade e na complexidade, e o potencial para inovação pode estar em mais
de uma área ao mesmo tempo. Mas no todo elas respondem pela grande maioria de
todas as oportunidades de inovação.
Princípios
da inovação
– A inovação intencional e sistemática começa com a análise das fontes de novas
oportunidades. Dependendo do contexto, as fontes terão importância diferente em
épocas diferentes. Porém, em qualquer que seja a situação, os inovadores devem
analisar todas as fontes de oportunidades. Como a inovação é, ao mesmo tempo,
conceitual e perceptiva, os candidatos a inovadores também devem sair e olhar,
perguntar e ouvir. Os inovadores bem-sucedidos usam os dois hemisférios de seus
cérebros. Eles examinam números. Olham para pessoas. Determinam analiticamente
o que a inovação deve ser para satisfazer uma oportunidade. A seguir eles saem
e examinam os usuários em potencial para estudar suas expectativas, seus
valores e suas necessidades.
Para
ser efetiva, uma inovação precisa ser simples e focalizada. Ela deve fazer
somente uma coisa; ao contrário irá confundir as pessoas. As inovações eficazes
começam pequenas. Elas não são grandiosas. Procuram fazer uma coisa específica.
Na verdade, ninguém pode prever se uma dada inovação irá terminar como um grande
negócio ou uma realização modesta. Porém, mesmo que os resultados sejam
modestos, a inovação bem-sucedida visa, desde o início, passar a determinar o
padrão, determinar a direção de uma nova tecnologia ou indústria, criar o
negócio que esteja – e permaneça – à frente dos demais. Se uma inovação não
visa, desde o início, a liderança, é pouco provável que ela seja
suficientemente inovativa. Acima de tudo, inovação é trabalho e não
genialidade. Em inovação, como em qualquer outro empreendimento, existe talento,
engenho e conhecimento. Mas a inovação necessita, acima de tudo, é de um
trabalho duro, focalizado e determinado. Se faltarem diligência, persistência e
empenho, talento, engenho e conhecimento de nada servirão.
GERENCIAR PARA A EFICÁCIA DA EMPRESA
O
primeiro dever – e responsabilidade permanente – do gerente da empresa é lutar
pelos resultados econômicos melhores possíveis a partir dos recursos empregados
ou disponíveis. Tudo o mais que se espera dos gerentes, ou que eles possam
querer fazer, depende do bom desempenho econômico e dos resultados lucrativos
ao longo dos próximos anos. Por isso, todos os executivos de empresa se
preocupam com custos e preços, com programação e vendas, com controle de
qualidade e atendimento ao cliente, com compras e treinamento. Além disso, a
vasta gama de ferramentas e técnicas à disposição do gerente moderno tratam, em
grande parte, do gerenciamento dos negócios de hoje para o desempenho econômico
de hoje e de amanhã.
Não
precisamos de ferramentas melhores ou em maior número. Precisamos é de
conceitos simples – algumas regras práticas – que irão ajudar a organizar o
trabalho respondendo:
- Qual é exatamente o trabalho do gerente? – É dirigir os recursos e os esforços da empresa no sentido de oportunidades para resultados economicamente significativos. Isso soa trivial – e é. Entretanto, o grosso do tempo, do trabalho, da atenção e do dinheiro vai primeiro para os "problemas" e não para as oportunidades e, em segundo lugar, para áreas nas quais até mesmo um desempenho extraordinariamente bem-sucedido terá impacto mínimo sobre os resultados.
- Qual é o maior problema nele? – É fundamentalmente a confusão entre eficácia e eficiência, que fica entre fazer as coisas certas e fazer as coisas da maneira certa. Certamente não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência aquilo que nem deveria ser feito. Contudo, todas as nossas ferramentas – em especial nossos conceitos e dados contábeis – focalizam a eficiência. O que necessitamos é de (1) uma forma para identificar as áreas de eficácia (de resultados significativos possíveis) e (2) um método para concentração nas mesmas.
- Qual é o princípio para definir este problema e para analisá-lo? – Também este é conhecido – ao menos como proposição geral. A empresa não é um fenômeno da natureza, mas da sociedade. Entretanto, numa situação social, os eventos não são distribuídos de acordo com a "distribuição normal" de um universo natural (isto é, eles não são distribuídos de acordo com a curva de Gauss). Numa situação social um número muito reduzido de eventos – 10 a 20 por cento no máximo – responde por 90 por cento de todos os resultados, ao passo que a grande maioria dos eventos responde por 10 por cento ou menos dos resultados.
Mais
importante que as razões pelas quais não chegamos às conclusões corretas é:
Quais são as conclusões corretas? Que linha de ação irá produzir os melhores
resultados econômicos e o melhor desempenho possíveis a partir dos recursos à
disposição da empresa? Comecemos estabelecendo algumas diretrizes:
- Os resultados econômicos exigem que os gerentes concentrem seus esforços no menor número possível de produtos, linhas de produtos, serviços, clientes, mercados, canais de distribuição, usos finais e assim por diante, os quais irão produzir a maior receita possível. Os gerentes devem minimizar a atenção dedicada a produtos que produzem principalmente custos, porque seu volume é demasiado pequeno ou pulverizado.
- Os resultados econômicos também exigem que os esforços da assessoria sejam concentrados nas poucas atividades capazes de produzir resultados em negócios realmente significativos – com esforço e trabalho da assessoria tão reduzidos quanto aqueles dedicados aos outros.
- controle efetivo dos custos requer uma concentração semelhante de trabalho e esforços nas poucas áreas em que melhorias no desempenho de custos irá ter um impacto significativo sobre o desempenho e os resultados da empresa – isto é, sobre as áreas nas quais um aumento de eficiência relativamente pequeno irá produzir um grande aumento em eficácia econômica.
- Os gerentes devem alocar recursos, em especial os recursos humanos de alto nível, a atividades que proporcionam oportunidades para altos resultados econômicos.
Criticar
é fácil; qualquer um pode encontrar erros. O leitor tem todo o direito de dizer
a esta altura: "O que exatamente podemos fazer para fazer um trabalho
melhor de gerenciamento?". Não tenho todas as respostas. Porém, apresento
uma série de passos – meramente delineados – que constatei serem altamente
eficazes em situações reais de negócios, ao menos como abordagens iniciais.
Especificamente:
Passo
1. Análise
– Aqui os gerentes precisa conhecer os fatos. Ele precisa identificar as
oportunidades e os verdadeiros custos dos produtos, as contribuições potenciais
das diferentes atividades de assessoria e os centros de custos economicamente
significativos.
Passo
2. Alocação
– Aqui o gerente deve alocar recursos de acordo com os resultados previstos.
Para isso, ele precisa saber como os recursos são alocados agora, como deverão
ser alocados no futuro para apoiar atividades de maior oportunidade e que
passos são necessários para que os recursos rendam aquilo que devem render.
Passo
3. Decisão –
O gerente precisa estar preparado para dar o passo mais doloroso de todos –
tomar decisões a respeito dos produtos, atividades de assessoria ou áreas de
custos que provocam confusão ao invés de gerar oportunidades e resultados.
Naturalmente, nunca se deve alocar a eles recursos produtivos de qualquer
magnitude ou potencial. Mas quais devem ser abandonados? Quais devem ser
mantidos com um mínimo de esforço? Quais poderão ser transformados em
oportunidades importantes, e quanto irá custar essa transformação?
Conclusão – O que delineei aqui
é o verdadeiro trabalho do gerente. Como tal, requer que ele ataque o problema
de se elevar sistematicamente a eficácia da empresa – com um plano de ação, com
um método de análise e com o conhecimento dos instrumentos de que ele
necessita. E embora o trabalho a ser feito possa parecer diferente em cada
empresa, uma verdade básica sempre estará presente: cada produto e cada
atividade de uma empresa começa a obsolescer tão logo se inicia. Portanto, cada
produto, cada operação e cada atividade numa empresa deve ter sua vida posta em
julgamento a cada dois ou três anos. Cada um deve ser analisado da mesma
maneira que uma proposta de um novo produto, uma nova operação ou uma
nova atividade – com orçamento, solicitação de apropriações de capital e assim
por diante. A respeito de cada um deve ser feita a pergunta:
"Se
já não estivéssemos nisto, iríamos entrar agora?". E se a resposta for
"não", a pergunta seguinte deve ser: "Como sair disto
depressa?".
Os
produtos finais do trabalho do gerente são decisões e ações, ao invés de
conhecimento e critério. A decisão crucial é a alocação de esforços. E
independente da dor, uma regra deve ser seguida, na alocação de recursos,
especialmente recursos humanos de alto potencial, as necessidades das áreas
mais promissoras devem ser satisfeitas em primeiro lugar e na maior extensão
possível. Se isto significar que não há recursos produtivos disponíveis para
uma porção de coisas que seria bom ter ou fazer, mas não vital, então será
melhor – muito melhor – abandonar esses usos e não dissipar recursos de alto
potencial ou tentar obter resultados com recursos de baixo potencial. Isto
exige decisões dolorosas e arriscadas. Mas afinal de contas, é para isso que os
gerentes são pagos.
PARTE II – O MUNDO DO EXECUTIVO
AS INFORMAÇÕES DE QUE OS EXECUTIVOS
REALMENTE NECESSITAM
Desde
que surgiram as novas ferramentas de processamento de dados, os homens de
negócios têm exagerado e também subestimado a importância das informações na
organização. As novas ferramentas nos capacitam – na verdade, podem nos forçar
– a ver nossas empresas de forma diferente, a vê-las como:
- Geradoras de recursos, isto é, as organizações que convertem custos em rendimentos;
- Elos numa cadeia econômica, a qual os gerentes precisam entender como um todo para administrar seus custos;
- Órgãos da sociedade para a criação de riqueza;
- Criadores e criaturas de um ambiente material que é a área externa à organização, na qual estão oportunidades e resultados, mas também se originam as ameaças ao sucesso e à sobrevivência de toda empresa.
Este
capítulo trata das ferramentas requeridas pelos executivos para gerar as
informações de que necessitam e também dos conceitos subjacentes a essas
ferramentas:
- Da contabilidade de custos ao controle de rendimento – Muitas empresas já passaram da contabilidade de custos tradicional para o custeio baseado em atividades. Este representa, ao mesmo tempo, um conceito diferente do processo da empresa, em especial para os fabricantes, e maneiras diferentes de medição. A contabilidade de custos tradicional postula que o custo total de fabricação é a soma dos custos das operações individuais. Porém, o custo que importa para a competitividade e a lucratividade é o do processo total, e é isto que o novo custeio baseado em atividades registra e torna gerenciável. Sua premissa básica é que a fabricação é um processo integrado que se inicia quando suprimentos, matérias-primas e partes chegam à plataforma de carga da fábrica e continua mesmo depois do produto acabado chegar ao usuário final. O atendimento ainda é um custo do processo e também a instalação, mesmo se o cliente pagar. Por outro lado, enquanto a contabilidade de custos tradicional mede quanto custa fazer alguma coisa, o custeio baseado em atividades registra o custo de não fazer, como o custo de uma máquina parada, do retrabalho ou rejeição de uma peça defeituosa etc. Enquanto a contabilidade de custos tradicional assume que uma certa operação precisa ser feita e no local em que é feita agora, o custeio baseado em atividades pergunta se a operação precisa ser feita e onde é melhor fazê-la. Assim, o custeio baseado em atividades integra atividades anteriormente separadas – análises de valor e de processos, gerenciamento da qualidade e custeio numa única análise. A contabilidade de custos tradicional também não mostra o impacto das decisões a respeito de preços sobre a participação de mercado. O custeio baseado em atividades mostra – ou ao menos procura mostrar – o impacto das mudanças nos custos e rendimentos de cada atividade sobre os resultados do todo.
- Da ficção legal à realidade econômica – Não basta conhecer o custo de suas operações. Para concorrer num mercado global cada vez mais competitivo, uma empresa precisa conhecer os custos de toda a sua cadeia econômica e trabalhar com outros membros da cadeia para gerenciar custos e maximizar o rendimento. Portanto, as empresas estão deixando de custear somente aquilo que acontece em suas próprias organizações para custear o processo econômico inteiro, no qual até mesmo a maior empresa é apenas um elo. Uma força poderosa que está levando as empresas na direção do custeio da cadeia econômica é a passagem da formação de preços baseada em custos para a formação de custos baseada em preços. Hoje o custeio baseado em preços está se tornando a regra. Porém as empresas somente podem praticar isto se conhecerem e administrarem o custo inteiro da cadeia econômica. Isto irá exigir sistemas contábeis uniformes, ou no mínimo compatíveis, nas empresas ao longo de toda a cadeia. Entretanto, cada uma faz sua contabilidade à sua maneira e está convencida de que seu sistema é o único possível. Além disso, o custeio da cadeia econômica requer a partilha de informações entre as empresas, quando mesmo na mesma empresa as pessoas tendem a resistir a isto.
- Informações para a criação de riqueza – As empresas são pagas para criar riqueza, não para controlar custos. Mas este fato óbvio não se reflete nas medições tradicionais. Os alunos do primeiro ano de contabilidade aprendem que o balanço retrata o valor de liquidação da empresa e fornecem aos credores informações sobre a pior hipótese. Mas as empresas normalmente não são dirigidas para serem liquidadas. Elas devem ser administradas como negócios permanentes, isto é, para a criação de riqueza. Isto requer informações que possibilitem aos executivos fazer julgamentos informados. São necessários quatro conjuntos de instrumentos para diagnóstico: (1) informações básicas – projeções de fluxo de caixa, de liquidez e medições-padrão; (2) informações sobre produtividade; (3) informações sobre competências essenciais; e (4) informações a respeito da alocação de recursos escassos. Esses quatro tipos de informações nos falam somente a respeito do estado atual da empresa. Elas proporcionam informações e direções táticas. Para a estratégia, necessitamos de informações organizadas a respeito do ambiente – mercados, cliente e não-clientes, de tecnologia na própria indústria e em outras, finanças mundiais e das mudanças na economia mundial. É aí que estão os resultados. Dentro da organização existem somente centros de custos. O único centro de lucros é um cliente cujo cheque não foi devolvido.
O
importante disso tudo não são as ferramentas, mas os conceitos por trás delas.
Eles convertem técnicas que eram consideradas distintas, para serem usadas
isoladamente e para fins separados, num sistema de informações integrado. Esse
sistema torna possíveis diagnósticos, estratégias e decisões empresariais. Esta
é uma visão nova e radicalmente diferente do significado e da finalidade da
informação: como uma medida na qual se baseiam as ações futuras, ao invés de um
registro daquilo que já aconteceu.
O ADVENTO DA NOVA
ORGANIZAÇÃO
A
grande empresa típica daqui a vinte anos terá menos da metade dos níveis
gerenciais da sua equivalente de hoje, e não mais que um terço dos gerentes.
Ela terá pouca semelhança com a empresa manufatureira típica de 1950 e,
provavelmente, se parecerá com organizações às quais nem os gerentes
praticantes nem os estudiosos de administração dão hoje muita atenção: o
hospital, a universidade e a orquestra sinfônica. Como elas, a empresa típica será
baseada no conhecimento, uma organização composta em grande parte por
especialistas que dirigem e disciplinam seu próprio desempenho através do
retorno organizado fornecido por colegas, clientes e sede central. Por esta
razão, ela será aquela que chamo de organização baseada na informação. As
empresas, especialmente as grandes, têm poucas opções a não ser se tornarem
baseadas na informação. Fatores demográficos exigem a mudança. Fatores
econômicos ditam a mudança, em especial a necessidade de inovar e serem
empreendedoras das grandes empresas. Mas acima de tudo, a tecnologia da
informação exige a mudança. À medida que a tecnologia avançada se torna cada
vez mais predominante, precisamos nos empenhar em análise e diagnóstico – isto
é, em "informações" – de forma ainda mais intensiva ou nos arriscamos
a ser afogados pelos dados que geramos.
Podemos
ver o primeiro passo deste processo de transformação quando consideramos o
impacto da tecnologia de computador sobre decisões de investimento de capital.
Sabemos que não existe uma maneira correta para se analisar uma proposta de
investimento de capital. Para entender isso precisamos de no mínimo seis
análises: a taxa esperada de retorno; o período de maturação e a vida produtiva
esperada do investimento; o valor presente descontado de todos os retornos
durante a vida produtiva do investimento; o risco de não se fazer o
investimento ou adiá-lo; o custo e o risco em caso de fracasso; e finalmente o
custo de oportunidade. Antes do processamento de dados, as análises teriam
levado anos-homens de trabalho para serem concluídas. Agora com uma planilha
qualquer um deve ser capaz de fazê-las em poucas horas. A disponibilidade
dessas informações transforma a análise de investimento de capital de opinião
em diagnóstico, isto é, em ponderação real de hipóteses alternativas. A segunda
área que é afetada quando uma empresa focaliza sua capacidade de processamento
de dados na produção de informações é sua estrutura organizacional – o número
de níveis gerenciais e o número de gerentes podem ser drasticamente cortados.
Informações
são dados dotados de relevância e finalidade. Portanto, transformar dados em
informações requer conhecimento. E conhecimento é, por definição,
especializado. Por isso, a organização baseada na informação requer muito mais
especialistas e necessita de trabalho operacional central como assessoria
jurídica, relações públicas e relações com os funcionários. Finalmente, os
departamentos tradicionais irão servir como guardiões de padrões, centros de
treinamento e a designação de especialistas; não será neles que o trabalho será
feito. Este será feito, em grande parte, em equipes focalizadas em tarefas.
Assim, a organização que será desenvolvida irá além da matricial e poderá, de
fato, ser muito diferente desta. Mas uma coisa está clara: ela irá exigir maior
auto-disciplina e ênfase ainda maior na responsabilidade individual para o
relacionamentos e comunicações.
Requisitos
da organização baseada na informação – Esta exige: (1) um ou poucos
objetivos claros, simples e comuns que se traduzem em ações particulares; (2)
especialistas, aos quais não se pode dizer a eles como fazer o trabalho; (3)
estruturação em torno de metas que declarem claramente as expectativas da
direção para o empreendimento e para cada parte e cada especialista e em torno
de uma realimentação organizada que compare os resultados com essas
expectativas de desempenho, para que cada membro possa exercer autocontrole; e
(4) que todos assumam responsabilidade pelas informações.
A
chave para este sistema é que cada um pergunte: Quem nesta organização depende
de mim para quais informações? E de quem dependo eu? A lista de cada pessoa
sempre irá incluir superiores e subordinados. Mas os nomes mais importantes
serão os de colegas, pessoas com as quais o relacionamento principal da pessoa
é de coordenação. Por isso, executivos e especialistas precisam definir o que é
informação para eles e de que dados necessitam: primeiro, saber o que estão
fazendo; a seguir, poder decidir o que deveriam estar fazendo; e finalmente
avaliar como estão se saindo. Até que isto aconteça, os departamentos de
sistemas de informações gerenciais permanecem como centros de custos ao invés
dos centros de resultados que poderiam ser.
Problemas
gerenciais na organização baseada em informação - Esta organização
apresentará problemas gerenciais especiais que considero particularmente
críticos: (1) desenvolvimento de recompensas, reconhecimento e oportunidades de
carreira para especialistas; (2) criação de visão unificada numa organização de
especialistas; (3) definição da estrutura gerencial para uma organização de
forças-tarefas; e (4) garantia de suprimento, preparação e testes do pessoal da
alta gerência.
A NOVA SOCIEDADE DE ORGANIZAÇÕES
O
conhecimento é o principal recurso para os indivíduos e para a economia em
geral. Terra, mão-de-obra e capital – os tradicionais fatores de produção dos
economistas – não desaparecem, mas tornam-se secundários. Eles podem ser
obtidos, e com facilidade, desde que haja conhecimento especializado. Ao mesmo
tempo o conhecimento especializado por si só não produz nada. Ele se torna
produtivo somente quando está integrado a uma tarefa. E é por isso que a
sociedade do conhecimento também é uma sociedade de organizações: a finalidade
e a função de cada organização, empresarial ou não, são a integração de
conhecimentos especializados numa tarefa comum.
Sociedade,
comunidade e família são instituições conservadoras. Elas procuram manter a
estabilidade e evitar, ou pelo menos desacelerar, as mudanças. Mas a organização
moderna é desestabilizadora. Ela precisa ser organizada para inovação e a
inovação é "destruição criativa" (Josepf Schumpeter). E ela precisa
estar organizada para o abandono sistemático de tudo aquilo que é estabelecido,
costumeiro, conhecido e confortável, quer se trate de um produto, um serviço ou
um processo, um conjunto de aptidões, relações humanas e sociais ou a própria
organização. Em resumo, ela precisa ser organizada para as mudanças constantes.
A função da organização é colocar o conhecimento para trabalhar em ferramentas,
produtos e processos, na concepção do trabalho, no próprio conhecimento e que,
por natureza, muda rapidamente e as certezas de hoje sempre se tornam os
absurdos de amanhã.
Para
os gerentes, as dinâmicas do conhecimento implicam num imperativo claro: cada
organização precisa embutir o gerenciamento das mudanças em sua própria
estrutura. Por um lado, isto significa que cada organização tem de se preparar
para o abandono de tudo aquilo que faz. Os gerentes devem aprender a fazer, a
cada dois ou três anos, a seguinte pergunta a respeito de cada processo,
produto, procedimento e política: "Se já não fizéssemos isto, será que
começaríamos a fazer agora, sabendo aquilo que sabemos?". Se a resposta
for não, a organização deverá perguntar: "Então o que faremos
agora?". E ela tem de fazer algo, e não dizer: "Vamos fazer outro
estudo". Cada vez mais as organizações terão de planejar o abandono, ao
invés de tentar prolongar a vida de um produto, política ou prática de sucesso.
Por
outro lado, cada organização deve se dedicar à criação do novo. Em termos
específicos, sua direção tem que adotar três práticas sistemáticas: (1)
aperfeiçoamento contínuo de tudo aquilo que a organização faz, o processo que
os japoneses chamam de kaizen; (2) aprender a explorar seus
conhecimentos, isto é, a desenvolver a próxima geração de aplicações a partir
de seus próprios sucessos; e (3) aprender a inovar - e agora a inovação pode e
deve ser organizada – um processo sistemático. Tudo isso significa que as organizações
da sociedade pós-capitalista precisam constantemente perturbar, desorganizar e
desestabilizar a comunidade.
Um
outro fato da vida organizacional produz igualmente rupturas: a organização
moderna precisa estar numa comunidade, mas não poder ser dela. Sua
"cultura" deve transcender a comunidade. É a natureza da tarefa, não
a comunidade na qual esta é executada, que determina a cultura de uma
organização. Para executar sua tarefa, a organização precisa ser organizada e
administrada da mesma maneira que as outras do mesmo tipo.
A
questão da responsabilidade social também é inerente à sociedade de
organizações. A organização moderna tem, e precisa ter, poder social – e muito.
Ela necessita de poder para tomar decisões a respeito de pessoas: quem contratar,
quem demitir, quem promover. Ela necessita de poder para estabelecer as regras
e disciplinas exigidas para produzir resultados: por exemplo, a atribuição de
cargos e tarefas e a fixação dos horários de trabalho. Ela necessita de poder
para decidir que fábricas construir, onde e quais fechar. Ela necessita de
poder para fixar preços, e assim por diante.
Toda
organização deve assumir plena responsabilidade pelo seu impacto sobre os
funcionários, o meio ambiente, seus clientes e tudo e todos a quem tocar. Esta
é sua responsabilidade social. Mas também sabemos que, cada vez mais, a
sociedade irá querer que as grandes organizações, com ou sem fins lucrativos,
solucionem os principais males sociais. E a esse respeito devemos estar
atentos, porque boas intenções nem sempre são socialmente responsáveis. É
irresponsável uma organização aceitar – para não falar em buscar –
responsabilidades que a impeçam de desempenhar sua tarefa e missão principais
ou a levem a atuar em áreas nas quais ela não tem competência.
Outras
características da organização moderna:
- Como essa organização é composta por especialistas, cada um com sua área de conhecimento, sua missão precisa ser absolutamente clara. Ela tem que ser determinada, caso contrário seus membros ficarão confusos e seguirão cada um sua própria especialidade, ao invés de aplicá-la à tarefa comum. Somente uma missão focalizada e comum poderá mantê-la unida e capaz de produzir.
- A melhor definição de funcionários na sociedade pós-capitalista: são pessoas cuja capacidade de fazer uma contribuição depende delas terem acesso a uma organização.
- A organização precisa conquistar a lealdade provando aos seus funcionários de conhecimento que ela lhes oferece oportunidades excepcionais para colocar seus conhecimentos para trabalhar. A empresa não mais obtém a lealdade por dinheiro.
- Como ela consiste de especialistas de conhecimento, essa organização precisa de iguais, de colegas e associados. Nenhum conhecimento vale mais que outro; cada um é julgado por sua contribuição para a tarefa comum, ao invés de por qualquer superioridade ou inferioridade inerente. Portanto, ela não pode ser uma organização de chefe e subordinado. Ela deve ser organizada como uma equipe.
Mesmo
assim, uma organização precisa ser gerenciada. O gerenciamento pode ser
intermitente e superficial como é, por exemplo, na Associação de Pais e Mestres
de uma escola americana de subúrbio. Ou ele pode ser uma tarefa absorvente e de
tempo integral para um grupo relativamente grande de pessoas, como no caso dos
militares, da empresa, do sindicato trabalhista e da universidade. Mas é
preciso haver pessoas que tomem decisões, ou nada será realizado. É preciso
haver pessoas responsáveis pela missão da organização, por seu espírito, seu
desempenho, seus resultados. A sociedade, a comunidade e a família podem ter
"líderes", mas somente as organizações conhecem uma
"gerência". E embora esta possa possuir autoridade considerável, sua
tarefa na organização moderna não é comandar. É inspirar.
O QUE AS EMPRESAS PODEM APRENDER COM AS
INSTITUIÇÕES SEM
FINS LUCRATIVOS
Poucas
pessoas estão cientes de que o setor sem fins lucrativos é, de longe, o maior
empregador da América. Um em cada dois adultos – um total superior a 80 milhões
de pessoas – trabalha como voluntário, dedicando em média quase cinco horas
semanais a uma ou mais organizações sem fins lucrativos. Cada vez mais e mais
voluntários estão se transformando em "pessoal não-remunerado",
assumindo as tarefas gerenciais e de profissões liberais em suas organizações.
Subjacente
a isto está um compromisso com o gerenciamento. As instituições sem fins
lucrativos aprenderam que necessitam de gerenciamento ainda mais do que uma
empresa, precisamente por carecer da disciplina do lucro. É claro que elas
ainda se dedicam a "fazer o bem". Mas também compreendem que boas
intenções não substituem organização, liderança, responsabilidade, desempenho e
resultados. Isto exige gerenciamento e este, por sua vez, começa com a missão
da organização.
De
modo geral, as instituições sem fins lucrativos são mais conscientes do
dinheiro do que as empresas. Elas se preocupam com dinheiro porque é muito
difícil levantá-lo e sempre têm muito menos do que necessitam. Mas suas
estratégias não se baseiam no dinheiro. Elas começam com o desempenho da sua missão.
Começar com a missão e seus requisitos pode ser a primeira lição que as
empresas podem aprender com as instituições bem-sucedidas. Ela focaliza a
organização na ação, define as estratégias específicas necessárias à realização
das metas cruciais e cria uma organização disciplinada. Uma missão bem definida
serve como lembrete constante da necessidade de seu olhar para fora da
organização, não somente em busca de "clientes", mas também de
medidas de sucesso. Por outro lado, uma missão claramente definida irá fomentar
idéias inovativas e ajudar os outros a entender porque elas precisam ser
implantadas. Muitas instituições sem fins lucrativos possuem hoje aquilo que
ainda é exceção nas empresas – um conselho de administração que funciona.
Também possuem um item mais raro: um CEO claramente responsável perante o
conselho e cujo desempenho é revisto anualmente por um comitê do mesmo. E
também um item ainda mais raro: um conselho cujo desempenho é revisto
anualmente em relação a objetivos prefixados. Assim, o uso eficaz do conselho é
uma segunda área na qual as empresas podem aprender com o setor sem fins
lucrativos.
As
instituições sem fins lucrativos costumavam dizer: "Não pagamos aos
voluntários; portanto, não podemos exigir deles". Hoje é mais provável que
elas digam: "Os voluntários precisam obter uma satisfação muito maior com
suas realizações e fazer uma contribuição maior precisamente porque não são
remunerados". A transformação gradual do voluntário, de amador
bem-intencionado em membro treinado, profissional e não-remunerado da equipe, é
o acontecimento mais importante no setor sem fins lucrativos 0 bem como uma das
implicações de maior alcance para as empresas de amanhã
O
que essas pessoas não-remuneradas exigem? O que as faz permanecer?
É
claro que elas podem sair a qualquer momento. A primeira e mais importante
exigência delas é que a instituição tenham uma missão clara, que impulsione
tudo aquilo que a organização faz. A segunda coisa que esta nova espécie exige
é treinamento, treinamento e mais treinamento. E a maneira mais eficaz para
motivar e reter veteranos é reconhecer sua competência e usá-los para treinar
recém-chegados. Então esses trabalhadores do conhecimento exigem
responsabilidades – acima de tudo, para definir e fixar suas próprias metas de
desempenho. Eles esperam ser consultados e participar da tomada de decisões que
afetem seu trabalho e o trabalho da organização como um todo. E esperam
oportunidades para progredir, isto é, oportunidades para assumir atribuições
mais difíceis e mais responsabilidades, de acordo com seu desempenho. É por
isso que muitas instituições elaboraram planos de carreira para seus
voluntários. Apoiando toda esta atividade está a responsabilidade.
Esta
passagem de voluntário de instituições para profissional não-remunerado pode
ser o acontecimento mais importante na sociedade americana de hoje. Ouvimos
falar muito a respeito da decad6encia e da dissolução da família e da
comunidade e da perda de valores. Mas as instituições sem fins lucrativos estão
gerando um poderoso contrafluxo. Elas estão forjando novos elos de comunidade,
um novo empenho para a cidadania ativa, a responsabilidade social, os valores.
E certamente a contribuição da instituição para o voluntário é tão importante
quanto o serviço, seja religioso, educacional ou ligado ao bem-estar, que a
instituição presta à comunidade.
O NOVO DESAFIO DA PRODUTIVIDADE
A
principal prioridade econômica para os países desenvolvidos deve ser
elevar a produtividade do trabalho do conhecimento e em serviços. O país que
conseguir isso primeiro irá dominar economicamente o século XXI. Entretanto, o
desafio social mais premente enfrentado pelos países desenvolvidos será
elevar a produtividade do trabalho em serviços. A menos que este desafio seja
superado, o mundo desenvolvido irá enfrentar tensões sociais e polarização
crescentes e radicalização cada vez maior, talvez até uma guerra de classes.
Aumentos maciços em produtividade são a única maneira para se sair deste brejo.
E esses aumentos podem vir somente daquilo que Taylor chamou de "trabalho
inteligente", significando trabalhar de forma mais produtiva sem trabalhar
mais duro ou mais tempo.
Quando
Taylor estudou a operação da pá, a única pergunta que o preocupava era
"Como isto é feito?". Contudo, no trabalho do conhecimento e em
serviços as primeira perguntas para elevar a produtividade – e se trabalhar de
forma mais inteligente – devem ser "Qual é a tarefa? O que estamos
tentando conseguir? Por que fazê-la, afinal?". Os ganhos de produtividade
mais fáceis nesse trabalho, mas provavelmente também os maiores, virão de se
definir a tarefa e, em especial, da eliminação daquilo que não precisa ser
feito.
Definir
desempenho é o terceiro passo no sentido de se trabalhar de forma mais
inteligente. Para alguns cargos de conhecimento e serviços, desempenho
significa qualidade. Tome cientistas em um laboratório de pesquisa onde a
quantidade – o número de resultados – é secundário em relação à qualidade.
Porém, ainda não sabemos como analisar o processo que produz resultados de
qualidade. Portanto, para elevar a qualidade podemos somente perguntar "O
que funciona". A Segunda categoria inclui a maior parte do trabalho do
conhecimento e em serviços: funções nas quais qualidade e quantidade em
conjunto constituem desempenho. As vendas de lojas de departamento são um
exemplo. A elevação da produtividade nessas funções requer que se pergunte
"O que funciona" e também se analise o processo passo a passo e
operação por operação. Finalmente, existem muitas funções de serviço (arquivar,
manusear reivindicações de seguros, arrumar leitos em hospitais) nas quais o
desempenho é definido da mesma forma em que o é na produção e movimentação de
coisas: isto é, em grande parte por quantidade. Nessas funções de
"produção", a qualidade é mais uma questão de critérios externos do
que um atributo do desempenho em si. Definir padrões e embuti-los no processo
de trabalho é essencial. Porém, uma vez feito isso, aumentos reais de
produtividade virão através da engenharia industrial convencional, isto é,
através da análise da tarefa e da combinação das operações individuais simples
numa função completa.
Definir
a tarefa, concentrar trabalho na tarefa e definir desempenho: por si mesmos,
esses tr6es passos irão produzir um crescimento substancial na produtividade –
talvez a maior parte daquilo que poderá ser conseguido em qualquer época. Eles
precisarão ser repassados, talvez a cada três ou cinco anos e certamente sempre
que o trabalho ou sua organização mudar. Mas há uma condição que apliquemos
aquilo que aprendemos desde a II Guerra Mundial a respeito de aumento de
produtividade em produzir e movimentar coisas. Assim, o quarto passo no sentido
do trabalho mais inteligente é a gerência formar uma parceria com as pessoas
que ocupam as funções, as pessoas que devem se tornar mais produtivas. A meta
deve ser embutir responsabilidade pela produtividade e pelo desempenho em cada
cargo de conhecimento e serviços, independente de nível, dificuldade ou
qualificação.
O
último componente do trabalho mais inteligente é uma lição em duas partes, que
nem Taylor nem Mayo conheciam: (1) o aprendizado contínuo precisa acompanhar os
ganhos de produtividade e (2) os trabalhadores do conhecimento e em serviços
aprendem mais quando ensinam. A melhor maneira para melhorar o desempenho de um
vendedor que já é um astro é pedir que ele apresente "o segredo do meu
sucesso" na convenção de vendas da empresa. Ouvimos com freqüência que na
era da informação toda empresa precisa se tornar uma instituição que aprende.
Ela também precisa se tornar uma instituição de ensino.
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A GERÊNCIA E O TRABALHO DO MUNDO
Finalmente,
o que é gerência? É um saco de técnicas e truques? Um pacote de ferramentas
analíticas como aquelas ensinadas nas escolas de administração? É claro que
elas são importantes, assim como o termômetro e o conhecimento de anatomia são
importantes para o médico. Mas aquilo que a evolução e a história da gerência –
seus sucessos assim como seus problemas – ensinam é que gerência é, acima de
tudo, um conjunto de poucos princípios essenciais. Especificamente:
- A gerência trata de seres humanos. Sua tarefa é tornar pessoas capazes de desempenho em conjunto, tornar suas forças efetivas e suas fraquezas irrelevantes. É para isso que existe uma organização e é por isso que a gerência é o fator crítico, determinante.
- Como a gerência lida com a integração de pessoas num empreendimento comum, ela está profundamente impregnada na cultura. Aquilo que os gerentes fazem na Alemanha, nos Estados Unidos, no Japão ou no Brasil é exatamente o mesmo. Assim, um dos desafios básicos enfrentados pelos gerentes em um país em desenvolvimento é encontrar e identificar as partes da sua tradição, história e cultura que podem ser usadas como blocos de construção.
- Toda empresa requer objetivos simples, claros e unificadores. Sua missão tem de ser clara e grande o suficiente para prover uma visão comum. As metas que a incorporam têm de ser claras, públicas e, com freqüência, reafirmadas. Hoje em dia ouvimos falar muito a respeito da "cultura" de uma organização. Mas o que isso quer de fato dizer é o compromisso de toda uma empresa com alguns objetivos e valores comuns. Sem esse compromisso não há empreendimento; apenas uma multidão. A tarefa da gerência é definir, fixar e exemplificar esses objetivos, valores e metas.
- Também é tarefa da gerência possibilitar que o empreendimento e cada um de seus membros cresçam e se desenvolvam à medida que mudam as necessidades e oportunidades. Isso significa que toda empresa é uma instituição de aprendizado e ensino. Treinamento e desenvolvimento precisam ser nela embutidos em todos os níveis – treinamento e desenvolvimento que nunca param.
- Toda empresa é composta de pessoas com diferentes qualificações e conhecimentos, realizando muitas espécies diferentes de trabalho. Por esta razão, ela precisa ser construída sobre comunicação e responsabilidade individual. Cada membro deve definir o que visa realizar – e certificar-se de que seus associados conhecem e entendem esse objetivo. Cada um deve definir o que deve aos outros – e certificar-se de que eles entendem e aprovam. Cada um deve definir o que necessita dos outros – e certificar-se de que estes sabem o que deles se espera.
- Nem a quantidade produzida nem o lucro é, por si só, uma medida adequada do desempenho da ger6encia e do empreendimento. Posição no mercado, inovação, produtividade, desenvolvimento de pessoal, qualidade, resultados financeiros – todos são cruciais para o desempenho da empresa e, é claro, para sua sobrevivência. A este respeito, uma empresa é como um ser humano. Assim como precisamos de uma diversidade de medidas para avaliar a saúde e o desempenho de uma pessoa, precisamos de uma diversidade de medidas para uma empresa. O desempenho deve ser embutido na empresa e em sua gerência; ele precisa ser medido – ou pelo menos julgado – e deve ser continuamente melhorado.
- Finalmente, a coisa mais importante a ser lembrada a respeito de qualquer empresa é que não existem resultados dentro das suas palavras. O resultado de uma empresa é um cliente satisfeito. O resultado de um hospital é um paciente curado. Dentro de uma empresa há somente centros de custos. Os resultados existem somente fora dela.
Muito
mais poderia ser dito. Mas os gerentes que realmente compreendem os princípios
acima delineados e gerenciam a si mesmos à luz dos mesmos serão gerentes
realizadores e consumados – a espécie de gerentes que constróem empresas
bem-sucedidas e realizadoras por todo o mundo e estabelecem padrões, fixam
exemplos e deixam como legado uma maior capacidade para produzir riqueza e
também maior visão humana.
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